domingo, 26 de abril de 2015

Conhecimento sustentável


Conhecimento sustentável


Tempos modernos. Novos índios são descobertos entre os antigos designers. Pais e filhos da arte estão pesquisando e inovando, reinventando o que já estava inventado, adormecido e esquecido. Resgatando conhecimentos e usos antigos desprezados pelo cientificismo. Resgatando uma diversidade de conhecimentos que se tornou encapsulada, e chamou-se de cultura, um modo de arquivar sem desprezar, usar sem cultuar. Deixar guardado até que a ciência lhe de um passaporte autenticado para participar do presente. 

O conhecimento fugiu da academia, ultrapassou os muros da universidade. Ganhou carta de alforria para exercer e percorrer um novo caminho, a plurivercidade. Um entrelaçar do místico e do cientifico. A mudança de uma visão heurística para uma visão holística.

Artistas morando ou acampando em refúgios urbanos, em áreas históricas e primitivas das grandes cidades, agora pesquisam novas técnicas e estratégias para usar e divulgar a sua arte. Criam ideias para outros artistas. Pesquisam produtos alimentícios e condimentares para serem usados como tintas em suas telas. Cores com artes e sabores, que deixam adubos como resíduos. Resgatam os usos e o conhecimento de indígenas que usam ou usavam corantes naturais para pintar seus corpos, na arte ou na guerra. As cores saem do corpo como suporte de mídia, a arte em ambientes naturais e abertos, livres, para agora ocuparem outras mídias de suporte que levam imagens à galerias fechadas e refrigeradas.

O conhecimento indígena foi desprezado pelo catolicismo e pelo cientificismo, uma ciência copiada nos moldes religiosos, com regras, rituais e hierarquias (A usurpação da ciência, 1, 2, 3, 4, 5 e 6: Jornal de Hoje. Natal/RN, 2013)*. 

O índio brasileiro não deixou livros escritos, não escreveu monografias, dissertações e teses, que perpetuassem nos arquivos das revistas cientificas e referencias bibliográficas. Não escreveu artigos nos moldes da academia. Mas deixou inscrições rupestres em sítios arqueológicos que só eles poderiam escrever e interpretar. Uma informação fossilizada pela ciência. E pesquisadores poderão um dia entrar em conflitos defendendo dissertações e teses, a partir de interpretações diferentes por linhas diversas de pesquisa, nas pinturas grafadas em pedras ou argilas. 

O conhecimento e o comportamento dos indígenas foi ate hoje analisado por olhares denominados como civilizados. Sobreviveu ao longo da historia, com historia oral entre os povos, passando comportamentos e conhecimentos de pai para filho, de geração para geração. Sobreviveu como um teatro e um relato vivo, mantendo e preservando seus conhecimentos e sua cultura, por meio de apresentações e manifestações culturais, com musica dança e desenhos; artes e artesanatos, armas e utensílios. Na sociedade intelectualizada o conhecimento indígena ficou restrito a movimentos folclóricos e datas especiais lembradas para ocupar espaços curriculares no ensino fundamental e no calendário escolar. Com fantasias e comportamentos que não correspondem a índios de uma aldeia real. 

Apenas nas igrejas ainda preserva-se cantos e rituais, a igreja reconhecida e autorizada pela ciência e pela sociedade. O conhecimento sustentável é um resgate do conhecimento primitivo. Não há lugar melhor para obter informações e conhecimento observando os índios, suas crenças, seus comportamentos e seus conhecimentos. O índio é o elo entre o homem urbano e o homem primitivo, o elo esquecido e perdido. 

O índio não faz comercio e não cria indústrias. Não imprime cédulas e não faz câmbios com moedas estrangeiras. Não armazena produtos e não conserva alimentos. Não esconde estoques para futura negociação com manipulação de preços e mercados, nacionais ou internacionais. Não aplicam em bolsas de valores, mas fazem cestos e cestas para transportar suas caças, pescas e coletas. Com redes descansam e analisam o que ocorre a sua volta. O seu transporte construído para cobrir grandes distancias, foi a canoa, que aproveita a correnteza de um rio, e em sentido contrario é com a força nos braços impulsionando varas e remos que superam uma corrente  fluvial. Não deixa rastros de desertificação e de fumaça. O índio não deixa rastros de industrialização marcados por rodas, deixa apenas pegadas na areia, por onde pisa. 

E quando na areia não tiver mais as marcas de rodas, e sem trilhas de lixo, apenas as marcas de passadas feitas por pés, ali o indígena estará carregando a humanidade, um lugar para onde a humanidade precisa ir, interagindo com o meio ambiente. Conhecimento e cultura indígena, um trunfo guardado pela ciência, para a solução da conservação ambiental e sustentabilidade.


R Cardoso
Parnamirim/RN, o Trampolim da Vitoria, em 26/04/15


Conhecimento sustentável

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(*)

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